8.9.05

O belo e o bom

Todos os dias a luta pertinaz pelas obrigações e a ânsia de assomar a uma janela em busca de ar. Não a esta janela propriamente, cúmulo de reminiscências sublimadas, mas a uma qualquer escotilha de onde se divise o marulhar do oceano. Já dormi pela noite numa camarata empilhada de um navio em sobressalto. Atulhados na terceira classe nós e uma mescla de cheiros pestilentos, a suores ácidos e refogados avinhados. Eu era o mais novo. Tinha dezassete anos e viajava assim. Ainda hoje, sem esforço, lembro-me dos ruídos nocturnos, dejectos, defecantes, enojados de tanto vomitar. O mundo nem sempre é belo, a vida nem sempre foi boa. Quando chove e a natureza estrepitosa lava o que existe, renovo-me por dentro, pertinaz sempre, ansioso por amanhã.