Assolado agora pela irada multidão e recalcitrante, a dos credores do tempo, ansiosos reclamantes do capital do afecto e dos juros de uma atenção, trancado em casa, entre a vergonha do débito e a impossibilidade de o cumprir, há um homem que revê os compromissos que assumiu, as promissórias que assinou, as expectativas que foi criando. Mais atrevidos os que clamam pelos deveres em atraso, os da profissão e os sociais, estão perto de lhe franquear a porta, arrombando-lha, expondo-lhe a vergonha. Outros, entre o condescendente e o resignado, aguardam, sem esperança, a sua vez, sentados no patamar da última ocasião. Para todos esses, os que como ele chegam à impossibilidade de solver, inventou-se a ideia da falência. É um opróbio segurante, mas é a moratória forçada de tudo o que se deve. Nem uma doença que o fulminasse o salvaria do que deve: ficaria a má fama, o fantasma do cobrador de fraque a persegui-lo ao fim dos tempos, estivesse nos altos céus, ou devolvido aos baixios de um outro inferno.