Um meu amigo, inteligente e risonho, qualidades que raramente se conjugam, contou que o fogoso Camilo tinha, na ânsia de um emprego, oferecido ao carrancudo Herculano, um cão, para que este, animado pela gentileza, lhe arranjasse um qualquer ganha-pão suficiente. E contou mais que, como o emprego não vinha, pois que dependente de políticos, que caíam no Parlamento como tordos na canícula, o escritor de São Miguel de Seide não esteve para mais: veio ressabiado a Lisboa, e passando em frente da casa do historiador, aí vai de assobio, e num ápice tinha o cão de volta. Tudo isto tem um sabor a passado; hoje, nem os cães conhecem o dono, nem os empregos se arranjam à força de cão. O que ainda resta é o assobiar, nem que seja para o ar.