O José de Almada-Negreiros, num intervalo dos seus «desejos eléctricos de exibição», escreveu, íntimo e exageradamente sincero, à pintora ucraniana Sonia Delaunay, a viver então em Vila do Conde, na Rua dos Banhos. Findou essa carta, escrita «da cidade quimicamente febril», com um «amanhã dar-lhe-ei toda a minha alma epilética de admiração. Hoje estou completamente só». Dias antes tinha escrito a Eduardo Viana, confessando-lhe: «eu vivo abandonado de entusiasmos e de tudo - a minha tragédia empeçonha-me tentacular e tumultuosa (...). Escreve-me para que eu sinta em mim alguma amizade». Corria o ano de 1916.