22.1.06

Clientes de mão

Lembrei-me agora deles, ao ler o que o José Cardoso Pires escreveu sobre o Fernando Assis Pacheco, ambos mortos: os galegos, de tempos que também já foram, a cuja modéstia serviçal Lisboa tanto deve. Eram os amoladores de tesouras e navalhas, sombrinhas e chapéus de sol, assobiando os ares com o trinado de uma gaita de beiços que os anunciava, de rua em rua; os carregadores de pianos, animais de carga, corda enrolada a tiracolo, ajoujando escada acima cargas bestiais, em troca de uns vinténs; e eram, enfim, os das carvoarias e tascas, casas de pasto e por vezes pensões de curta permanência. A Lisboa gastronómica chique do «Gambrinus» a eles se deve, o popular «João do Grão», a eles pertence. Com uma variante que Cardoso Pires recorda: o João do Grão tinha os talheres presos à mesa com correntes, «para evitar distracções do cliente de mão sem escrúpulos». E o que por aí há mais são distraídos.