Consegui estar este fim de semana em Amarante, por causa do Amadeo de Souza-Cardoso. A casa da família, onde viveu, está fechada a visitas. Para a descobrir é preciso perguntar e muitas vezes. Muita gente da terra nem sabe onde é Manhufe. Mas, enfim, de curva em curva, entre rotundas e inversões de marcha, lá acertámos. Já na rua da pequeníssima localidade, hesitante, abordei um passeante nos seus sessentas, que pela samarra e passo vagaroso me parecia um habitante da terra: «a casa do Amadeo Souza-Cardoso é aquela ali em baixo?», perguntei. «É sim», respondeu-me, solícito, o meu interlocutor, acrescentando, prestável: «mas olhe que ele não deve estar em casa, pois costuma ir até Lisboa». Pois costuma, pensei eu, mas a última vez que isso aconteceu foi em 1916. Pensei mas não disse, talvez com receio de ouvir como resposta um «Ah! Bem me parecia! Por isso o não vejo há tanto tempo».