5.5.06

As três da vidairada

Eram três a uma mesa, numa hora já tardia para se almoçar. Coscuvilhavam a vida alheia, num tric-tric martelante, quais máquinas de costura a pedal. Uma, esgalgada de formas, com ar seráfico de confessionário, intrigava uma colega, ausente, ratando-lhe as intimidades. A gorda do grupo, com voz de falsete, apoucava a chefe que tinha lá no serviço, macaqueando-lhe as maneiras. Para não lhes ficar atrás, a meã da companhia, rude de gestos, contava-lhes as últimas que se tinham sabido daquela uma e o que se suspeitava daquel'outra. Tentando concentrar-me na minha tarte de legumes, apercebi-me de que eram professoras do liceu. Coitadinhos dos nossos filhos! Se não houver melhor do que aquilo, dão em fraldiqueiros pela certa. Podem não conhecer a ciência do seu tempo, mas ficam enciclopédicos no que ao pátio das cantigas respeita. E por outro lado, ai de quem se mata a ensinar os filhos alheios e tem que gramar disto como paisagem!