É uma luta diária contra o tempo. Começa-se por trabalhar mais depressa, por se encurtarem as horas de refeições, salta-se mesmo o almoço, por vezes nem se janta, há dias em que mal se come. Descobrindo que não há que dormir tanto, rouba-se ao descanso, ilude-se a sonolência, engana-se a habituação viciosa do corpo esgotado ao estridente despertador. Há no homem da maratona, a esganada ambição da meta, a inércia tresloucada do correr. Cronometrado ao segundo, retesa-se num espasmo final, antes de cair de borco, o coração a rebentar, tudo perdido por uma fracção de segundo. No podium da vida não há lugar para tantos e ele é, afinal, um anónimo no pelotão. No sprinter final, joga o seu destino. Um dia, trôpego de velho, uma manta pelos joelhos, é o que lhe valerem as suas recordações. Às vezes são recortes amarelecidos de jornais, fotografias sumidas num álbum sebento. No jardim da indiferença, já ninguém os ouve. São os recordistas da imobilidade, campiões da monotonia, medalhas de ouro de um mundo que já passou.