Regressei ao primeiro livro da Dulce Cardoso, de há muito deixado a meio, a leitura interrompida. Lembrava-me de cena onde ia, o homem na praia com o caco de vidro cravado no pé, o espectáculo tétrico de levarem-no, num dia de sufocante canícula, o metal e o sol combinados com o alcatrão amolecido, para um indiferente hospital. Li umas folhas antes de cair, fulminado de sono, «o passado demora sempre algum tempo a ser reiventado». Tal como a vida, as primeiras folhas já lidas não são, pois, necessariamente assim.