O médico chegou-me, enfim, na forma de um livro. Ireneu Cruz, médico gastrenterologista, escreveu um estudo sobre a morte, por suicídio, de Ernest Hemingway. O autor de «O Velho e o Mar» e controverso prémo Nobel da Literatura, teve um final de vida decadente, a sua estrutura física minada pelos excessos de vida, o seu psiquismo possuído pelo desejo libertador de morte. Perdida aos poucos a memória, incapaz de escrever, Hemingway viveu a longa agonia de um sofrimento atroz, até que um dia, com um tiro de caçadeira se restituiu à paz. Numa das suas cartas confessou sentir-se perseguido por um esgotamento nervoso assassino.
Neste seu estudo o ilustre médico pergunta-se, entre outras coisas, se não teria sido o tratamento que lhe foi instituído para debelar a hipertensão a causa da depressão que o liquidou.
Interessante exercício necrológico, autópsia sobre a morte surpreendente, eis a medicina que salva, a medicina que mata.
O livro chama-se «Hemingway, o seu último legado». O legado, a sua dádiva, teria sido morrer, pois ante isso «redobrou-se a atenção clínica para uma mais cuidadosa avaliação e prevenção dos efeitos colaterais dos fármacos» usados no seu caso. Em nome dos que ainda não fomos mortos pela cura, obrigado, pois, «Papá».
Neste seu estudo o ilustre médico pergunta-se, entre outras coisas, se não teria sido o tratamento que lhe foi instituído para debelar a hipertensão a causa da depressão que o liquidou.
Interessante exercício necrológico, autópsia sobre a morte surpreendente, eis a medicina que salva, a medicina que mata.
O livro chama-se «Hemingway, o seu último legado». O legado, a sua dádiva, teria sido morrer, pois ante isso «redobrou-se a atenção clínica para uma mais cuidadosa avaliação e prevenção dos efeitos colaterais dos fármacos» usados no seu caso. Em nome dos que ainda não fomos mortos pela cura, obrigado, pois, «Papá».