Hoje eram cinco a manhã e já andava pelas ruas, dormidas poucas horas e pelas nove em Setúbal, na livraria «Novo Mundo», e procurar, para um amigo, o último «Cartas ao Léu», mais um exemplar da epistolografia do Luiz Pacheco. Amigável, o livreiro disse-me que aquela edição está a acabar, aquele era o último exemplar que lhe restava. Agora, depois de um dia de servidão, são onze da noite e estou a cair de cansaço, a tentar folhear uns livros que comprei entretanto em Matozinhos. Um deles, cuidadosamente encadernado são os versos do Manuel Laranjeira. Agora reparei que no dia dezassete de Janeiro do ano passado tinha escrito sobre ambos, o Pacheco e o Laranjeira. Com a passagem do tempo, esqueci-me, e bem assim que o autor dos versos que agora me acompanham se matou com um tiro na cabeça aos trinta e quatro anos de idade. O livro de versos chama-se «Comigo, versos de um solitário», o último dos poemas «A morte». Trágicamente premonitório e talvez ninguém tivesse reparado.