Em Outubro de 1968, andava eu já pela Faculdade, ofereceste-me o teu primeiro livro de versos, «O Corpo e o Muro». Estudámos ambos o possível no Liceu, íamos esperar, pacientes, a camioneta dos jornais que nos chegava de Lisboa e passeávamos, horas a fio, pelas ruas desertas de Viseu, conversando intermináveis palavras de inesgotáveis assuntos. Foi graças a ti que encontrei na literatura o sentimento, nos livros as ideias, no ler um sentido para a vida solitária e desnorteada.
Hoje, Luís Miranda Rocha, disseram-me que tinhas morrido. Há séculos que não sabia de ti. Agora que finalmente soube, a tristeza afundou-se em mim, o mundo mais vazio, a juventude envelhecida.
Hoje à noite, devolvido ao meu trivial prosaico, lembro-te um verso, o momento da despedida: «Digo-te adeus adeus e digo-te adeus a ti e é como se dissesse adeus também a isto tudo a esta cidade donde me vou e onde ficas».
Estamos a ficar sem amigos, uns porque morrem, outros porque se desiludem de nós. Um destes dias, os que sobejamos, deixamos de fazer falta a este mundo e marcamos encontro na cidade para onde vais.