«Para qualquer pessoa em isolamento, que não fala por não ter com quem falar, os livros, se sabe ler, tornam-se companheiros, amigos carinhosos, com quem de boa vontade se trocam impressões. Por isso eu quero os meus». A frase é de Wenceslau de Morais, escrita no seu «viver de exílio». Leio-a, regressado à grande metrópole onde vivo, povoado de criaturas com quem é possível, em teoria, falar-se. Leio-a uma vez mais, o livro encontrado entre os meus livros, amigos carinhosos, que não antecipam na sua cabeça a nossa partida e esperam, impacientes, a sua vez.
O cão de Tokushima, soube ao continuar a leitura, «desconhece o uso das festas e das carícias; se as recebe por acaso, não sabe retribuí-las; quer comer não quer festas». É assim, entre o rosnar do mundo dos homens e os livros. «Por isso eu quero os meus», por isso eis-me entre eles, de boa vontade.