Vim de comboio de Loulé a Braga a ler o «Príncipe» do Maquiavel, por causa de uma promessa de trabalho em que me enredei e quero cumprir até ao final de Setembro. Cheguei à conclusão que ele escreveu a obra para fomentar um principado que salvasse a Itália dividida, quando o seu coração se inclinava para a República romana.
Cheguei agora, ao Hotel da Estação, e cruzei-me na recepção com o revisor e o maquinista, que vão também pernoitar por aqui. Qualquer dia eu e a CP somos uma família e ainda passamos a Consoada juntos.
Instalado, vim aqui ao meu bloco de notas, deixar um apontamento do que li ferroviariamente.
Maquiavel quiz dedicar a obra a Juliano de Médicis, que teria na altura 25 anos. Só que este magnífico florentino morreria inesperadamente e o livro seria dedicado a Lourenço de Medicis, duque de Urbino, O Magnífico, que por sua vez morreria, jovem também, em 1519, sem poder concretizar os conselhos que assim recebia.
É por isso patético o momento em que, no capítulo 26, exortando o jovem a que cumpra o espírito italiano e trate da redenção da sua terra e a liberte «das mãos dos bárbaros», lhe lembra que «Deus não deseja tudo fazer, para não vos tolher o livre arbítrio e o quinhão de glória que soubermos merecer».
Tinha razão: Deus, não desejando tudo fazer, encarregou a morte do que tinha de ser feito.