Já o tinha visto, ao livro de Jean-Jacques Lafaye, que é mais uma biografia de Stefan Zweig, o austríaco que ressuscitou agora para os escaparates, depois de se ter suicidado, no Brasil, sua pátria de exílio, onde se matou conjuntamente com sua mulher, abrindo a clareira do insólito facto e a dor do desconhecido fim na alma dos seus muitos leitores.
Tinha hesitado em comprá-lo, porque anunciava que tinha uma apresentação escrita por Mário Soares, que considera essa sua introdução «honra imerecida» e «desnecessária» e, a meu ver, despropositada. Mas, enfim, o nome de Soares é sonante e o mercado editorial, magro de vendas, gosta disso.
Comecei ontem a lê-lo, devagar, porque tem uma letra miúda, com dificuldade porque o meu estado de espírito não é o melhor. É uma narrativa em que o discurso por vezes entra na primeira pessoa, transformando-se em auto-biografia, um livro que fala da «sua intimidade com as as palavras, companheiras de cada momento, sua única fidelidade absoluta». No momento em que parei o autor explicava que para o autor de «Vinte e quatro horas na vida de uma mulher», a pobreza «é uma abstracção». Talvez, mas a sua maior riqueza foi a capacidade de sentir, com distância crítica embora, e sobretudo saber dizê-lo. O livro chama-se «O Porvir da Nostalgia».