Por hábito compro o JL, algumas vezes consigo lê-lo quase todo, a maior parte das vezes, arrumo-o para o ler com o da vez seguinte e acabo por passar adiante, lido nenhum.
Desta vez vi na capa a palavra mágica «Musil» e sobressaltei-me. Ainda não abri o jornal, mas já vi, espreitando as folhas entreabertas, que era o João Barreto a anunciar mais um passo de gigante na saga de traduzir este notável militar austríaco que marchou para a Literatura Universal; desta feita virá o primeiro de três volumes, dedicado a «O Homem sem Qualidades».
Enfim, uma tradução com qualidades, as do prestígio do tradutor. De há muito que a velha edição dos «Livros do Brasil», publicando a tradução de Mário Braga precisava de sucessor.
Uma das coisas que eu aprendi com o Robert Musil é que «um acontecimento e uma verdade possíveis não são iguais a um aconntecimento e uma verdade reais menos o valor "realidade"». Nesta equação em que equilibriam a ontologia do ser, a lógica da verdade e a epistemologia do conhecer está contida, quase que timidamente, a totalidade da vida. No mais, o livro é um prodígio de ironia, como quando nos lembra que «a zoologia ensina que a soma de indivíduos diminuídos pode resultar num indivíduo genial».