Por amabilidade do Francisco da Conceição Espadinha, que tem confiado na minha pessoa mais do que a minha auto-estima, escrevi para a Editorial Presença, uma apresentação para uma nova edição, traduzida do italiano, de O Príncipe, de Maquiavel.
Confirmei ontem, numa Bertrand, que Diogo Pires Aurélio viu publicar agora também um texto com a mesma natureza, para o Círculo de Leitores. Não tive ainda tempo de o ler. Mas, num folhear apressado, entendo que estamos entre duas lógicas diferentes: a dele, que é cientista político e professor, e nos traz os conceitos que subjazem ao pensamento do Secretário e a minha, que traz para o campo da polémica o ser humano que Maquiavel foi, por ser, no melhor e no pior, idêntico a tantos de nós.
Escrevi, pois, sobre a condição humana, a tragédia da existência, o enigma daquele sorriso. Antes de nós, Martim de Albuquerque, professor também, mas de Direito, tinha vindo a público, continuando a luta que a Sociedade de Jesus iniciara e mantém, desde há séculos, contra a «ética maquiavélica». Martim é um estudioso erudito sobre o assunto.
É bom sermos muitos e diversos. Já em tempos Jorge de Sena soubera encontrar em O Príncipe o humano através do escrito, Manuel Mendes vira nele um democrata, onde Francisco Morais tinha visto um fascista.
É esta a eternidade do escrever, a sorte e a virtude deste pequeno livro: está para além de todos nós.