Sentei-me num banco do passeio público a ler. Fazia-o sem óculos. O passeio público era o corredor do Centro Comercial Colombo. O conseguir ler apenas com os meus olhos foi porque o corpo de letra era maior. Trouxe-o agora para casa, um livro que Georges Simenon não escreveu. Dois anos antes decidira não mais escrever. Estas memórias ditou-as. Chama-se Lettre à ma mère. É uma récita nostálgica, amorosa, de um amor feito de ausências. Inicia-o por descobrir que ao refugiar-se no mundo interior que lhe era familiar Henriette Brüll parecia estar já no outro mundo. É assim que vêem os olhos dos outros. Vou seguir com os meus, desta vez com óculos. Tinha-os aqui, esquecidos, por uns momentos ilusoriamente inúteis.