16.12.08

A cor dos dias

Hoje, a meu lado, pela hora do almoço falavam do António Alçada Baptista. Ele dizia-lhe que com certeza «o Alçada, porque fundou a revista O Tempo e o Modo e mais a Livraria Moraes e mais essas coisas todas tinha com certeza um projecto pessoal e uma ideia». Ela respondia-lhe, sem perguntar sequer o que eram «essas coisas todas», que não sei quem estava zangado por se dizer que ele escrevia nas revistas femininas, «mas olha que os artigos na Máxima eram muito bons». Ele, sem se ficar e sem reparar nas feminilidades, aditava um «acho que ele queria fundar era um partido da democracia cristã». Era, perguntei-me eu. Ela, como se viesse a propósito, perguntava-lhe se ele tinha lido o artigo que o Vasco Pulido Valente tinha escrito sobre o António. O Alçada Baptista, claro. Eu por acaso não tinha lido. Ele, num vai-vém, comentou então, como se a conversa tivesse lógica, que «ele coitado era católico e progressista, uma contradição». Coitado, claro. Ela rematou que «ele tinha um filho escritor mas que, coitado, era conhecido como o filho do Alçada». Coitado, pois.
Nessa altura eu já me tinha vindo embora. Coitado eu também. Com uma dor de cabeça que deu em vomitar pela hora de jantar. Ai amigo, haja pena dos vivos que os mortos ao menos esses já foram indo para a terra do além de ter de os aturar aos chamados sobreviventes.