Na sua biografia de Stefan Zweig, Jean-Jacques Lafaye escreve que ele «imaginou demasiadas dores humanas para poder escapar delas». Sente-se isso ao ler a formidável novela O Coração Destroçado, a história do comerciante Salomonsohn, em cujo coração, qual toupeira, a angústia cava um túnel, «a ferida que não dói», tal «o sangue a correr para dentro do seu próprio sangue», o «derrame invisível» que o destruirá.
Escravo do dever, agrilhoado às obrigações, torna fácil a vida de uma família, escravizando-se a ganhar o dinheiro que a todos, no entanto, fará perder. É uma história de sordidez moral travestida em amor familiar.
Deus pune e o seu Deus puniu-o com o horror indigno de ter de «engolir a própria cólera, como um cão engole o seu vómito». Ridícula, ainda por cima a razão.
No dizer dos seus, ele era o homem a quem «fazia mal ver os outros contentes». «Fechara-se no seu ser o que quer que fosse; tornara-se inacessível, ausente, como se a sua alma tivesse sido emparedada». Li-o ontem, uma história de resignação.