7.3.09

Um engate

A boa escrita é um engate. Prende-nos como um anzol, vai-nos dilacerando a carne ao arrastar-nos. Retomei hoje a leitura. «Fazem-me mais triste, eu sei, mas estiveram sempre convencidos de que a obra que deixaram me haveria de fazer feliz», pensava Maria da Graça, a personagem de Walter Hugo Mãe, a mulher-a-dias, que entregava o corpo e o tempo ao senhor Ferreira «com o maldito categoricamente afirmando que lhe punha as mãos pela oportunidade», devolvendo-a, «assim conspurcada ao marido». Uma escrita poderosa, ágil, funda, a contar, toda em minúsculas, que «o amor criado assim, a partir de quem se odeia, é o pior, dizia-lhe a quitéria, é como lutar com a sombra». O livro chama-se O Apocalipse dos Trabalhadores. Não lhe conhecia outro livro. Agora, quando este se esgotar, irei a todos.