Quantos escritores não desejam pedir aos seus leitores que os não leiam? Amigavelmente, como a sugerir-lhes que vivam a vida sem querer vivê-la através da literatura. Quantos literatura existe que não tem outra vida se não a daqueles que a vivem, lendo-a? Quanto virar de folha entristecido não há, quantas paixões sem índice, quantos amores sem segunda edição, biografias embargadas na tipografia? Vou escrevendo entretanto, autómato, sonâmbulo, criador fictício de sensações reais. Encerrei-me neste velho aramazém. A sua grandeza vazia é a demonstração da pequenez do que faço. Trago comigo uma resma de papel por dia, uma caneta e um mundo para fingir.