3.9.05

Há quem se ria na ria

O dia atazanava de calor. A fome apertava. Ao longo do passseio, ciganas vendiam roupas baratas, uns negros, óculos de sol, tudo produtos com marca igual às marcas. Zaranguitando a caminho do restaurante possível, conversa tartamuda, a fome a ensarilhar as ideias, dei com ele. Comia uma sopa de cenouras de uma malga em plástico. Vendia um livro, o seu livro de versos, poemas, os seus poemas avulsos. Olhou-me do interior profundo de si, uns olhos encovados num rosto envelhecido à força das barbas brancas. Prometi-me que no regresso lhe compraria qualquer coisa. Falhei deliberadamente, por pudor. Agora recordo o seu anúncio, num papelito sem graça: tire um poema e deixe uma moeda. Podia ser o lema deste blog, menos o jardim. Adoro sopa de cenouras.