2.9.05

A transmigração das almas

Depois de ter escrito há momentos sobre o Luiz Pacheco, lembrei-me do que há uns poucos anos escrevi no «Jornal de Negócios», numa crónicas a que chamava «O Baile de Máscaras». Aí lembrei que o homem que para si recusa o epíteto de «escritor maldito» havia editado em 1970 os seus «Textos de Guerrilha». Num desses textos iconoclastas Pacheco lembrava a lista dos ilustres artistas convidados pelo Presidente da República para um jantar no Palácio de Belém. Só que com um pormenor provocatório: o Venerando anfitrião era o almirante Américo Tomás, que o 25 de Abril apeou de Presidente; o convidado o cineasta Manuel de Oliveira [mais tarde crismado como Manoel de Oliveira] o mesmo que, provocatoriamente também, em “Non ou a vã glória de mandar”, ligaria o 25 de Abril a Alcácer Quibir. Tudo com um final fantástico: no filme «Conversa Acabada» o realizador João Botelho mascara o Pacheco como Fernando Pessoa «moribundo e logo esticado, com o Manoel de Oliveira, padreca, a rezar-lhe o responso, num latim esgosmado». É mesmo caso para dizer, alma encomendada, alma ressuscitada.