É uma homenagem de parede, na parede que eu vejo diariamente do meu quarto a frase «domadores de automóveis por moedas de cem». No circo motorizado em que a cidade se tornou, em que há feras em velocidade, e mais o volteio louco de mil e duzentos cavalos de tracção, por onde pululam jibóias ondulantes no trânsito congestionado, leões que cruzam vermelhos, e mais os paquidermes com atrelado dos transportes internacionais, eles, os domadores, são o resto do humano a dominar a fera. É uma vida de risco. Morre-se na estrada. Em troca de cem, cada um deles, braço pendente, no vai-vem do vem-vai rodoviário, inventam o que parece não haver: um lugar. Houvesse essa profissão para as almas, e a troco de cem, arrumava-se o que anda fora de mão e mais o que segue em sentido proibido, para cada um um canto, para todos o seu lugar. Ah!, como se nota, a parede é antiga, a frase é velha, os cem já eram. Mas mesmo com a correção monetária, a verdade circense ainda é o que é.