Já nem sei como é possível evitá-los, aos livros. Hoje talvez tenha passado o teste decisivo. Ando a acumular tantos livros para acabar de ler que já deveria ter pudor em abeirar-me de outros. Lá consegui encerrar o torrencial «Diário Remendado» do Luiz Pacheco, mas ainda vou a três quartos do tristonho «Os meus sentimentos» da Dulce Cardoso, falta-me a parte final do conturbado «O Acidente» do Mário Cabral, vou no princípio ainda do enevoado «Nítido Nulo», do Vergílio Ferreira, mas apeteceu-me ler e comecei-o ao Saramago, o das burlescas «Intermitências da Morte». E, no entanto, eu que embirro, sem saber sequer porquê, com a Maria Filomena Mónica, eu que, por causa disso me esquinei com o livro que ela escreveu, por saber que era dela e por duvidar que memórias capazes poderiam ser aquelas e que me interessariam, comprei hoje o livro. Quase diria comprei-lhe o livro, naquela forma de dizer de um leitor que quer ajudar um escritor. Comecei a lê-lo há pouco num banco cimentado de um centro comercial, enquanto esperava que acabassem umas variadas compras. Li quanto pude. Os outros livros, pacientes, aguardavam em casa a sua vez. Leio onde calha. Calha é infelizmente poucas vezes. Mesmo assim dou graças a Deus: aprendi a escrever, depois de ter aprendido a ler.