Errático na vida, irregular nas leituras, talvez haja em mim um nunca mais acabar no convívio com os livros. Comecei muito tarde. Há poucos anos descobri o real valor da ficção, há muitos secou-me a capacidade de não ser prosaico. Hoje cada folha em que progrido a escrever é um passo atrás na regressão do tempo vivido. Havia outrora os analfabetos de origem, para quem a quarta classe só se alcançava na tropa, os que escreviam juntando as letras, como quem faz artimética elementar, contando-a com os dedos da mão. Esta noite percebi, enfim, o ridículo desta escrita: renasço com ela em cada linha e com ela morro em cada página. Tal como nas historietas baratuchas, ao terceiro capítulo, o autor abate-me; umas folhas adiante o leitor, distraído e entretido, já nem se lembra de mim.