Agora que por causa do centenário todos falam do Agostinho da Silva e eu, amarrado, qual burro cego, à nora da quinta, mal tenho tempo de ler, deixem-me só trazer aqui dois momentos de fina ironia que com ele se relacionam. Um, quando Antónia de Sousa o entrevistou para o que viria a ser um livro e abriu a conversa com a natural pergunta «creio que o professor Agostinho da Silva tem oitenta anos, não é?» e ele respondeu «eu também creio»!; outro, que é uma frase sua que, desdobrando-se em duas, vem citada por Artur Manso num ensaio sobre a sua vida e obra e que eu gostaria de tornar em ideal de vida: «não sou do ortodoxo nem do heterodoxo; cada um deles só exprime metade da vida; sou do paradoxo que a contém no total. Na realidade não estou interessado em coisa alguma; sim, porém, em viver».