21.1.07

Alucinado

Hoje andei a entregar cartas. É bom isto, o fazer de paquete, e saber assim onde são as portas e quem as abre. Nada como o trabalho braçal para que os intelectuais saibam quanto custa a vida ao povo, dizia o presidente Mao. Foi por isso que dei com ele, a farda cinzenta de segurança, uma barba a revelar cansaço, dentro do seu casinhoto, conformado, neste entardecer de domingo, fumando, tranquilo, o seu cachimbo. Lembrei-me da lagarta do Alice no País das Maravilhas, lançando ondas multicolores do seu hookah, numa antecipação psicadélica com que a mente genial de Walt Disney enriqueceu o primitivo desenho de John Tenniel. Lembram-se da história: metade do cogumelo fazia crescer, a outra metade encolher. No caso dele, estava do lado menor da vida, recebendo cartas, entre fumos de resignação.