O senhor Artur estrebuchava, aflito, os seus oitenta e tal anos tornados naquele escanzelado corpo, em convulsões. Entubado, a respirar artificialmente, monitorado em todos os sinais vitais, ei-lo qual peixe moribundo em busca de ar. Nervosa a máquina de vigilância gritava como uma sirene de bombeiros, a luz vermelha piscava insistente. «Tenham calma, tenham calma, que ele aguenta-se», comandava um médico, no que parecia a antevisão do improvável, tais eram os gritos da máquina, o chiar, trepidante, da maca, os ossos, trémulos, num feixe de dor. «Senhor Artur, senhor Artur», chamava-o, crispada, a enfermeira, a voz da própria vida a reclamá-lo. Lentamente, o senhor Artur, parou de tiritar. Abriu de súbito os olhos como se surpreendido com todos e de todos ausente. Regressara até nós, e ficaria connosco à espera da próxima vez. Feliz comigo, dei-me alta. Cá fora o mundo pareceu-me um pouco melhor.