O Francisco da Conceição Espadinha, da Presença, editou agora um livro de homenagem ao António Alçada Baptista. Tinha-o visto na montra da Bertrand da Avenida de Roma, à noite, mas a livraria estava fechada. Procurei-o, alvoroçado, ainda essa noite na Barata, logo ao lado, mas tinham-se-lhes esgotado os poucos que tinham. Esqueci-me, entretanto. Ontem, na Bertrand do CCB, lá estava à minha espera, para me animar a alma maltratada.
A história do homenageado é conhecida: advogado, fartou-se da advocacia; com o dinheiros de umas heranças, comprou a livraria Moraes, que editava livros de Direito, mas fê-la rumar a outras paragens editoriais, pelas enseadas do pensamento, nos baixios da cultura, notabilizando-a mesmo no mar encapelado da poesia.
Alçada Baptista arruinar-se-ia trazendo para a vida portuguesa obras de pouca leitura, custeando «O Tempo e o Modo», a «Concilium» e tanta outra iniciativa sua e de outros do «humanismo cristão», aqueles a quem João Bénard da Costa chamou num pequeno livrinho de memória, «nós os vencidos do catolicismo».
Ontem ainda, entre a tarde e a noite, consegui ler o livro, para adormecer, já de madrugada com a incómoda sensação de como um homem pode ser descrito mas tantas vezes exilado pelos que dele não estão próximos. Alguns dos que ali escrevem e que tão próximos estiveram, é vergonha que tão distantes pareçam ter estado, a escrita seca, as palavras de palha, frases de panegírico obituário, mesmo historietas banais com que se decidiram sem remorso a colaborar.
É nisso que entendimento não contábil com o mundo», referido por Leonor Xavier, na sua contribuição, me fez sentido, por recortar o biografado, pela diferença, no mundo dos outros.
Acordei hoje para vir dizer isto aqui, com uma tristeza na alma vinda do que li num livro que se chama «Tempo Afectuoso».O António Alçada Baptista, porque é um bom homem, calculo, esteja contente, forma social de se parecer feliz. Eu vou ler o que me falta dos livros dele.