Vivendo uma vida isolada, tenho muito poucos amigos. Um deles deixou-se ficar por Macau. É daqueles que compreendem quando não lhes aparecemos e respeitam o nosso exílio, poupando-nos à vergonha de ter de expor em público as nosas chagas. Mandou-me agora dois volumes da obra de Wenceslau de Moares, que está a ser ali editada, aguçando-me o apetite por ler tudo. Esta manhã em que, exaurido, permiti que a preguiça me desse descanso, li a contra-capa de um deles: Aprendi que não se beija uma japonesa, ainda que na face, sem a ofender, «mas poderás talvez beijar, sem que a musumé o saiba, dissimulando o gesto... o seu vestido».
Claro que, visto pelos olhos da contemporaneidade, pelo espírito prático dos dias de hoje, pela banalidade grotesca em que se tornou a subtileza, tudo isto é ridículo, mesmo eu, disto leitor, num dia como o de hoje, numa manhã como esta.