Graças ao meu amigo, que está expatriado em Macau, estive hoje, um sábado com prometida chuva e surpreendente calor, com o Wenceslau de Moraes e um seu livro de paisagens escritas sobre a China e o Japão.
Wenceslau José de Sousa de Moraes, oficial de Marinha, fixou-se em Macau em 1889, transferindo-se definitivamente em 1898 para o Japão, onde viveria os últimos trinta e um anos da sua vida, sem mais regressar.
Ser delicado, qual sismógrafo capaz de registar a mais pequena vibração humana naquela terra de terramotos, deixou-nos páginas de inteligente e ardorosa visão sobre o Oriente «esfíngico e fatal», como lhe chamou Fernando Pessoa, local de exílio voluntário e de fuga redentora, a quem entregou a alma e que lhe recebeu os ossos.
Frequentemente sorumbático por natureza da alma, e erraticamente apaixonado por herança da raça, ele foi no Dai-Nippon, o «senhor Portugal».
Lembrei-me disto esta manhã, ao acordar cedo, os pássaros a cantar: «Neste país japonês, onde parece que os seres, homens e bichos, nasceram e vivem num banho permanente de sorrisos» escreveu ele, o que viu que «o riso é a linguagem mais em uso nesta terra». Assim eu.