A ânsia de ler o atrasado, aqueles livros que houve um tempo em que todos os tinham lido, mesmo os que os não entenderam o que liam; a pressa reler os livros que não faziam falta quando os pude ter e já não existiam quando os desejei rehaver. Tudo isso é hoje o meu modo de ser enquanto leitor.
Sim, porque ter lido o «Rumor Branco» do Almeida Faria naquela primeira edição que deu brado não é o mesmo que tê-lo hoje que tem obra consagrada e parece que já nem escreve.
E depois é aquela preocupação obsessiva de, quando se gosta de um autor, querer ler tudo o que ele escreveu, comprar um a um todos os seus livros e todos os livros sobre si, fazer listas e no fim correr de adelo em alfarrabista para reconstituir o que falta, parecendo que há sempre mais um na bibliografia inédita.
Claro que se sofre com isto. Foi assim com a obra do José Gomes Ferreira. O que eu me entristeci quando li «O enigma da Árvore Enamorada, divertimento em forma de novela quase policial», por achá-lo petulante de título e péssimo de estilo, a narrativa da «árvore que se apaixonara por Ema e que tinha ciúmes do cão!».
A personagem central chama-se Martinho de Samardã, nome foneticamente adequado para o caso, onomatopaicamente sugestivo de recorrências.
Hoje, que andei a arrumar os dispersos que já cercam o estrado que faz de cama, dei com ele, aplicadamente sublinhado, porque o li todo, sacrificado mas fiel.