O pai de Niccolò Machiavelli chamava-se Bernardo. Letrado em jurisprudência, ignorava a arte de enriquecer, ao contrário de tantos dos advogados e notários florentinos. Amava, porém, os livros e comprava-os, trocando quantas vezes para isso produtos hortícolas da sua propriedade rural. Maurizio Viroli, cujo estudo sobre o sorriso de Maquiavel estou a ler, diz que a história de Roma, de Tito Lívio, com base na qual o autor da Mandrágora compôs o que foi uma das suas melhores obras, embora a menos conhecida, o Discorsi sopra la prime deca di Tito Livio, a conseguiu ele, elaborando, minuciosa e pacientemente, durante nove meses, um índice dos lugares citados na obra. Como penhor de que cumpriria, o pai Bernardo deixaria ao editor «tre fiaschi di vino vermiglio e un fiasco d'aceto».