Vi-o reeditado e fui buscar a minha edição antiga, ainda da Bertrand. Tinha sido escrito em 1953. A edição do meu exemplar já era a 23ª. Vim a lê-lo em viagem, a ver em cada palavra uma nódoa negra de uma vida dorida, a cicatriz de uma ferida salgada pela memória. E, no entanto, é a história de um rapaz.
Vergílio Ferreira esteve no Seminário da Guarda. Manhã Submersa é disso o testemunho. Só que esta constatação banal é uma ínfima gota de água no revoltoso rio dessa torrencial lembrança de que a escrita é explêndida Literatura. Livro sobre o sacerdócio, é mais um livro sobre a expiação dessa culpa de a Fé não ter resistido à Igreja, a vocação não ter suportado a Esperança. Podia ser, no entanto, um livro sobre o enamoramento e suas mágoas. Nada mudaria.
Há no coração deste rapaz a falta de uma Mãe, no seu corpo a falta de uma Mulher. Viveu substituindo esses amores desejados pelo cumprimento dos seus deveres. De joelhos até já não ser mais possível. A sua prece era o silêncio.