9.1.09

Entre cobertores

Enroscado em cobertores, tossindo nos intervalos de espirrar, os olhos a lacrimar, purgando pegajosidades e outras repelências, sem ao menos a dignidade de uma febre, a ver as horas a escorrer na inutilidade da prostração, um homem sente-se, no auge de uma constipação a ler perpetuamente este excerto de Nietzsche, do seu livro A Gaia Ciência, com que hoje o dia findou, a frase a rodopiar-me a cabeça, eu num atchim potente de exclamação sentida: «Temo que os bichos considerem o homem como um semelhante que se privou da razão animal sadia, como um animal no delírio, que ri e que chora, como um animal infeliz».
Haverá lá coisa mais sem razão do que este delírio de gripes, que tornam o rei da criação uma insignificância expectorante, reduzido à vil domesticidade de uns cházinhos e outras tizanas meladas, galinha chocadeira da própria canja, aspirina sem metafísica, salta um conhaque que mal não faz mesmo quando não cura e ao menos sempre se esquece!