24.1.09

A veia literária

Senta-se um homem devolvido aos seus livros entreabertos, não finalizados, aos livros que comprou e não leu, ao que não escreveu. Droga de substituição, na literatura estão quase todas as sensações já experimentadas, excepto uma: anular-se assim a vida totalmente substituída, escrita, sem vontade de a voltar a ler. Senta-se um homem entre a ideia de tantos livros. Meticulosamente, deixando bilhete de adeus, abre a veia da criação, esvaindo-se, derradeiro, jorrando a vida que se anula, linha a linha, no livro que lhe faltava finalizar. Carregados de expectativa, os leitores esperam ansiosos.