Foi neste blog, no dia 13 de Julho de 2005 que comecei a escrever sobre livros, os que lia, os que gostaria de ler. Depois criei um outro espaço que é parte do meu nome, pois chama-se António Rebelo da Silva e está aqui e um outro, intitulado A Fantástica Livraria, que se encontra aqui, dedicado ao que encontro pelos alfarrabistas. Tudo sem regularidade, sem ordem, à mercê das circunstâncias. E tantas foram.
Neste em que hoje volto a escrever, tirando-do do mutismo em que se encontra desde 2011, não havia imagens sem haverá. Apenas letras, aquelas que são as que vejo nos livros que acumulo na ânsia de os concluir ou ao menos iniciar, letras que aprendi a juntar na escola primária, começando antes dela pela Cartilha Maternal de João de Deus.
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Volto pois, com um livro que comecei a ler numa viagem de avião, precisamente a Genève, onde está inumado, por ali ter vivido os momentos finais da sua vida, Jorge Luis Borges, leitura que terminei há semanas e guardei porque queria deixar em qualquer lugar uma nota de leitura.
De tudo quanto escreveu Graham Greene, Dr. Fischer of Geneva or the Bomb Party é talvez das suas obras menos citadas, talvez por ter sido escrito numa lógica de ressentimento ditada por razões pessoais, expressão de desprezo e rancor em que só a generosidade de um dos seus biógrafos e amigo, o Padre Leopoldo Durán encontrou algo de tão insólito quanto semelhança com os Moments Musicaux de Franz Schubert [que se podem ouvir aqui numa interpretação de Alfred Brendel]. E por ser, é o que penso, uma obra com menos valia literária.
Não interessa a história da personagem que nos surge como tradutor de línguas latinas - duas das cartas que traduz são aliás em português - a quem o blitz da Luftwaffe - que o autor tão bem conheceu - amputou, na fatídica noite de Dezembro de 1940, a mão esquerda, ou o seu enamoramento e vida conjugal com a filha do dono da fábrica de chocolates e seu patrão, Dr. Fischer.
Importa já a medida em que as festas destas, parties pomposos, faustosos, eram pretextos mais do que para a corrupção pelo que a cada convidado calhava a final como obséquio, mas sobretudo para o rebaixamento dos que assim eram obsequiados e de quem Dr. Fischer, o vil anfitrião, poderia, enfim, gozar o sórdido prazer da dominação.
E talvez importe aquilo em que muitos dos que leram a obra se concentraram - a festa final, roleta russa em que - pobre artifício literário para a grandeza do escritor - as oferendas estavam escondidas em invólucros que supostamente continham uma bomba pelo que, a ganância era, enfim, jogar no precipício do risco a própria vida.
Abundam nesta novela resquícios das obsessões do autor de The End of the Affair, a angústia religiosa, a pulsão sexual, o problema dual do mal e do bem. E a questão da felicidade, que é para si como uma das remotas ilhas do Pacífico, que nenhum cartógrafo anotou e submergem sem que delas fique vestígio e nenhum marinheiro que as haja avistado está seguro de não ter assim acontecido apenas na sua imaginação.